quinta-feira, 16 de agosto de 2012

PAPO NA REDE COM JOMAR

Estamos de volta com o nosso quadro "Papo na Rede". E, abrindo a temporada 2012/2013, o entrevistado da vez é o fisioterapeuta desses três anos de Pequi Atômico - Jomar Almeida. Bastante educado em nos atender, ele conta na entrevista como recebeu a notícia do fim da equipe; revela qual foi o atleta de tratamento mais difícil na história do Montes Claros Vôlei; quais são os novos planos; dá conselhos para os peladeiros de vôlei; e ainda conta o que costuma fazer nas horas vagas. A entrevista ficou muito enriquecedora e descontraída, temos certeza que os internautas vão gostar muito. Vale a pena conferir!

Crédito: Orkutorcida
Assista ao vídeo da entrevista


Leia a entrevista transcrita

Gostaríamos de começar te perguntando: como é a sua trajetória no esporte?
BMG/Montes Claros x Sky/Pinheiros.
Crédito: Orkutorcida
A minha entrada no vôlei foi pelo que eu sempre fiz em Montes Claros. Eu atendia os atletas amadores daqui, no MCTC, de graça. Cheguei a atender alguns atletas que vieram a se tornar profissionais, como foi o caso de Carlão, Jonhson e o levantador Gerinha. Então, quando Victor veio da Espanha, eles me indicaram para cuidar da entorse de tornozelo grave que ele havia sofrido. Ele já vinha de um tratamento de um mês, mas não tinha apresentado boa evolução. Quando eu o atendi, com pouco mais de uma semana ele já conseguia saltar para bloquear, graças ao trabalho de reforço que a gente tinha feito. Nessas sessões de fisioterapia ele começou a falar comigo uma coisa que eu não acreditei muito, que tinha um projeto de montar uma equipe de vôlei profissional em Montes Claros. Eu falava com ele que estava louco, mas respondia dizendo que iria trazer Giba e ele iria ser vaiado por 8.000 pessoas no ginásio, e eu dei gargalhada na época. Mas a aposta dele, juntamente com outras pessoas envolvidas no projeto, fez com que surgisse o Montes Claros Vôlei.

Já aproveitando para falar do time, qual foi o momento ou quais foram os momentos mais marcantes para você nesses três anos defendendo a equipe?
Rodriguinho com a taça de vice-
campeão da Superliga
Na verdade são vários momentos marcantes, mas a gente não pode deixar de falar do primeiro ano. Montes Claros era novato e nós fomos vice-campeões da Superliga. E nesse ano de estreia, que foi o mais marcante, teve um momento ímpar pra mim. Na véspera da partida da final contra o Florianópolis, houve a reunião com os jogadores e cada um começou a falar alguma coisa. Então, Rodriguinho levantou, como capitão da equipe, e falou algo que me deixou surpreso. Ele disse que Deus não faz nada por acaso, pois estava na Europa e sentindo muito dor no joelho, um problema crônico que ele tinha. Já haviam feito vários tratamentos com ele e nada resolvia. Quando estava desistindo do voleibol, apareceu o convite para jogar no Montes Claros. Ele só pediu a Deus que jogasse em um lugar que cuidasse do seu joelho, mas quando ele chegou eu nem tinha acertado com a equipe ainda. Ele até pensou: "o que você está querendo comigo, Deus? Me mandando para um lugar onde nem fisioterapeuta tem?". Mas, assim que fui contratado e o tratamento começou, com menos de 1 mês ele já não sentia mais nada. Ele disse que nunca sentiu tão bem, que havia sido a primeira temporada que ele não sentia nada no joelho. Ele ter falado isso nessa hora como algo de exemplo, na véspera da final da Superliga, dizendo que nada acontecia por acaso, para mim foi um momento ímpar. Eu não esperava que tinha marcado tanto a carreira dele como marquei.

Jomar, e como é que você recebeu essa notícia do fim do time?
Jogadores agradecem torcida Moc.
Eu acho que foi uma surpresa para toda a cidade. O que eu fico preocupado é que tem hora que a política, e talvez a ganância, passam por cima de um bem maior. Eu penso que nunca Montes Claros foi tão valorizada nacionalmente como foi com o time de vôlei. Eu sei que eu convivi muito com Sr. William, Sr. Felipe, Victor, e sei que são pessoas que amavam muito o vôlei, isso eu posso garantir. São pessoas que fizeram de tudo para essa equipe dar certo e elevar o nome de Montes Claros. Quando veio a notícia foi um choque até mesmo para eles, e foi triste pelo fato deles não terem tido força de manter o time. Mas a esperança é a última que morre. Nós, enquanto população, se for uma coisa boa, temos que cobrar das autoridades de que isso não acabe. E não tem uma pessoa que fale mal do que acontecia naquele ginásio.

E com o fim, pelo menos momentâneo, da equipe de vôlei, você vai voltar para o futebol?
Graças a Deus que, quando a gente faz um bom trabalho e é reconhecido, não faltam oportunidades. Eu não quero deixar a área esportiva nunca. Semana passada, com o retorno do Montes Claros Futebol Clube para disputar a 2º divisão, eu fui convidado por Victor para trabalhar na equipe. Estou muito feliz pelo convite e mais ainda por não estar saindo da área de esportes.

Jomar e Leo Caldeira.
Foto: Rubem Ribeiro
Por já ter experiência tanto pelo lado do futebol como pelo lado do vôlei, qual a avaliação que você faz em termos de fisioterapia: os cuidados são muito diferentes?
Na verdade, o objetivo da fisioterapia é o mesmo. O que muda é como você vai atender. O vôlei é um esporte que não tem muito contato, mas que tem o uso muito grande de certas articulações; muito impacto nos membros inferiores, pois saltam muito joelho e tornozelo, além de muito uso do ombro. O futebol já é mais um esporte de aceleração e desaceleração demais e um piso irregular, onde há muito contato. Então, há essa diferença, que se dá nos tipos de lesões. E como você vai fazer o trabalho para evitar os tipos de lesões está no conhecimento delas.

Nós temos muitos blogueiros que jogam o seu voleizinho no final de semana, inclusive a gente. Quais são os conselhos que você poderia dar para esses "atletas"?
Peladeiros de vôlei em Moc.
Foto: Jane Leite
Toda pessoa que vai fazer uma atividade, de moderada a intensa, ela tem que passar por um trabalho preventivo de lesões. Quando a gente joga vôlei em pelada, mesmo que seja duas, três vezes por semana, naquela atividade você sempre vai trabalhar a mesma musculatura. O corpo humano é feito de músculos que são usados para aqueles estabilizadores e acabamos não trabalhando esses estabilizadores, o que pode gerar bastantes problemas. Assim, toda pessoa que jogue, por exemplo, duas vezes por semana, deve fazer um trabalho preventivo para que não aconteça uma lesão, como um trabalho de musculação específico. O trabalho do fisioterapeuta hoje está sendo nesse sentido, onde o esportista define o que ele quer praticar e o trabalho é feito especificamente para esse esporte.

Jomar, já caminhando para a parte final da entrevista, voltando à questão do vôlei, como fisioterapeuta do time, você teve contato com outros fisioterapeutas do país. Então, como você avalia a questão da saúde no esporte? Como vem sendo tratado os jogadores?
Jomar na clínica de Montes Claros.
Crédito: Orkutorcida
Como eu falei: existe equipes e equipes de vôlei. Tem vários times que querem sugar o jogador naquele ano, não interessando como o atleta estará no ano posterior. Há também aqueles trabalhos em que os fisioterapeutas enxergam o jogador como ser humano. Pelo fato do Brasil, hoje, por não ter fisioterapeutas com a condição financeira para montar equipamentos, como os dos Estados Unidos e Alemanha, nós conseguimos nos adaptar muito. Por isso somos considerados, na versatilidade, como a melhor fisioterapia do mundo, principalmente na parte preventiva de lesões. Jogadores vivem convidando fisioterapeutas daqui para ir para a Europa. Inclusive, eu quase larguei o time de vôlei na temporada 2010/2011 para ir trabalhar na França.

Então você avalia de modo positivo a fisioterapia no esporte brasileiro.
Muito positiva, cresceu demais. O Brasil está começando a pesquisar muito na área esportiva, principalmente na parte de prevenção.


E nesses três anos de Montes Claros, qual foi o caso mais difícil de tratar?
Leandrão, ex-Montes Claros.
Foto: Christiano Jilvan
Olha, eu tive alguns "pepinos" nas mãos para resolver (risos). Teve um caso, ninguém sabe disso, mas Leandrão só ficou em Montes Claros porque a comissão técnica se reuniu e verificou na ressonância magnética que o atleta tinha 70% de um músculo rompido, e que é fundamental para o jogador de vôlei, ele chegou na cidade dessa forma. O desafio era se eu conseguiria curar esse ombro. Eu respondi positivamente, mas dependia mais de Leandão do que de mim, e ele até assinou um termo de compromisso para que desse certo. Dessa forma, nós conseguimos em tempo recorde reabilitar o ombro de Leandrão. Outro atleta que também chegou muito mal fisicamente foi o Tuba. Quando ele estava no Brasil Vôlei, já havia 3 anos seguidos que estava no Brasil e nunca havia ficado sem machucar. A temporada que ele jogou sem problemas foi aqui em Montes Claros. Quando chegou, ele tinha tido uma ruptura no músculo serrátil grave e não conseguia nem levantar o braço. Ele não gosta que eu falo, mas eu brinco com ele que quando as pessoas me perguntam qual foi o meu maior  desafio no voleibol, eu respondo: "Tuba!" (risos). Mas é um cara hiper profissional, que dá gosto de ver treinando.

E fora esse estresse todo do trabalho, o que costuma fazer nas horas vagas para poder relaxar?
Olha, eu gosto de jogar o meu futebolzinho (risos). Eu gosto de praticar esporte de vez em quando. O vôlei não estava me deixando praticar esporte e eu acabei ficando com esse corpo de barriga (risos). Esses atletas comem pra caramba. Íamos nas viagens e toda hora que eles estavam lanchando a gente lanchava também. Só que eles praticavam esporte, nós não (risos). Mas eu gosto de jogar bola, pedalar, faço umas trilhas boas aqui em Montes Claros, é isso.

Jomar, muito obrigado por receber a gente.
Eu que agradeço, e que vocês venham sempre aqui na clínica, espero que não para tratar, mas para visitar (risos). Existe esse ditado: se a pessoa vier aqui e não voltar, vem obrigado (risos). Então é bom vocês estarem vindo aqui nos visitar.
Jomar e Orkutorcida. Crédito: Orkutorcida
Gostaríamos de deixar registrado que ficamos ainda mais admirados pelo trabalho de Jomar. Com a entrevista, ficou muito claro o motivo desse grande fisioterapeuta ter ganhado rapidamente o apelido de "São Jomar". O Papo na Rede foi sem dúvida um dos mais enriquecedores que nós já fizemos. Agradecemos muito por você ter nos atendido prontamente e esperamos que possa continuar nesta caminhada de sucesso, Jomar! Grande Abraço de toda a Orkutorcida, valeu!

5 comentários:

  1. Eu que quero agradecer o carinho que vocês sempre demonstraram pela equipe e principalmente comigo. O grande trabalho que vocês fazem não pode parar, temos varias outras equipes em vários esportes que representam também Montes Claros em Minas e no Brasil, faço um pedido então, sejam torcedores destas equipes, como exemplo o Montes Claros Futebol Clube "O Bicho". precisamos de pessoas como vocês do nosso lado, fica mais fácil o sucesso. Conto com vocês, e estou sempre a disposição. abraço Jomar Almeida

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  2. O melhor de todos desparado. muitas saudades desse cara ai, parabens Doc, exelente entrevista como de sempre kkkkk, e para Orkutorcida tbm ótima escolha para ser entrevistado. Rodriguinho09.

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  3. E o ditado é certeiro. Por isso, depois de ter alta, volto toda semana para fazer a prevenção e, se não for telefono, mando sinal de fumaça...rsrsrs
    Mas, este é O CARA, competente, amigo e eu o vi não só tratar, mas acolher os jogadores de vôlei que aqui chegaram como numa família. A Reabilitar tem uma energia sensacional!!!

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  4. Grande Jomar! Fiquei ainda mais fã, hehe. É um profissional que se diferencia pela determinação, seriedade, carisma e várias outras qualidades. Ele entende o ser humano. Sucesso sempre pra você, Jomar! Abraço.

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  5. Só dando um pulo na clínica de São Jomar pra ver se dá um jeito no meu joelho de peladeiro de fim de semana rsrs. Parabéns pelo grande profissional q é, e, mesmo não tendo um contato próximo, percebe-se ser também uma grande pessoa. Felicidade e sucesso, Jomar.

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